As coagulopatias hereditárias são condições médicas caracterizadas por distúrbios na coagulação sanguínea, que podem resultar em sangramentos excessivos e prolongados. Pacientes com essas condições requerem cuidados especiais em diversas áreas da saúde, incluindo a odontologia. O tratamento preventivo desempenha um papel fundamental na promoção da saúde bucal e na prevenção de complicações em pacientes com coagulopatias hereditárias.
Um modelo odontológico preventivo eficiente deve ser baseado em uma abordagem personalizada, levando em consideração a história clínica completa do paciente e desenvolvendo um plano educativo e preventivo específico para sua saúde oral. Esse plano deve incluir instruções sobre higiene bucal adequada, aplicação tópica de flúor e o uso de agentes químicos para controle da placa bacteriana, como o digluconato de clorexidina a 0,12%. Além disso, é essencial fornecer orientações sobre uma dieta saudável e recomendar visitas regulares ao dentista.
É importante adaptar a abordagem educativa de acordo com a população-alvo, oferecendo orientação individual, coletiva e familiar. As instruções de higiene oral devem levar em consideração a faixa etária e a capacidade cognitiva de cada paciente. A prevenção de cáries, doenças periodontais e problemas de oclusão depende de uma série de fatores, como condições socioeconômicas, hábitos alimentares, higiene bucal adequada, disponibilidade de flúor na água, acesso a serviços odontológicos e outros. Isso ressalta a importância da participação ativa do paciente na manutenção de sua saúde bucal.
Pacientes com coagulopatias e trombopatias hereditárias devem se beneficiar de todos os métodos educativos e preventivos disponíveis na odontologia, que visam reduzir o risco de cárie, doença periodontal, problemas de oclusão e prevenção do câncer bucal. É responsabilidade do cirurgião-dentista oferecer e tornar esses métodos acessíveis a esses pacientes.
Uso de agentes antissépticos e fluoretados
Dentre as abordagens terapêuticas utilizadas, destaca-se o uso de agentes antissépticos e fluoretados. Em regiões onde não há fluoretação da água ou em casos de alto risco de cárie, pode ser prescrito o bochecho com solução de fluoreto de sódio 0,05%. Além disso, a utilização de outros agentes químicos controladores de placa bacteriana, como o digluconato de clorexidina 0,12%, o triclosan, eucaliptol, mentol, timol, xilitol, entre outros, deve ser associada ao reforço da educação em higiene oral, levando em consideração critérios odontológicos específicos.
Profilaxia profissional
A profilaxia profissional, que envolve o polimento coronário e a remoção mecânica da placa bacteriana e tártaro, pode ser realizada em pacientes com coagulopatias hereditárias sem a reposição de fatores de coagulação ou transfusão plaquetária. Antes desses procedimentos, é recomendado realizar um bochecho com antifibrinolítico, como o ácido tranexâmico ou ácido épsilon amino-capróico, dissolvidos em água. Esse bochecho deve ser mantido na cavidade bucal por 4 minutos, principalmente se o paciente apresentar gengivite ou doença periodontal moderada. Pequenos sangramentos gengivais decorrentes da “limpeza profissional” podem ser controlados com o uso de substâncias hemostáticas, como o ácido tricloroacético a 10% ou derivados do cloreto de alumínio.
Conclusão
O tratamento preventivo desempenha um papel crucial na promoção da saúde bucal em pacientes com coagulopatias hereditárias. Uma abordagem personalizada, que leve em consideração as necessidades individuais do paciente, é fundamental para garantir a eficácia do tratamento. O uso de agentes antissépticos e fluoretados, juntamente com a profilaxia profissional adequada, ajuda a prevenir complicações e a manter a saúde oral desses pacientes. É responsabilidade dos cirurgiões-dentistas fornecer esses cuidados preventivos e torná-los acessíveis a todos os pacientes com coagulopatias hereditárias.
Texto adaptado de: Manual de atendimento odontologico a pacientes com coagulopatias hereditárias - Ministério da Saúde