As úlceras aftosas recorrentes (UAR) são lesões comuns na mucosa bucal que afetam aproximadamente 20% da população. Apesar de sua alta prevalência, a etiologia das UAR permanece incerta, com múltiplos fatores contribuindo para o seu desenvolvimento. Este artigo tem como objetivo revisar as diferentes hipóteses etiológicas e discutir as opções de tratamento disponíveis, com ênfase nas terapias tópicas.
As úlceras aftosas recorrentes são caracterizadas por lesões ulcerativas na mucosa bucal que ocorrem em intervalos regulares. Representam cerca de 90% de todas as úlceras observadas na prática odontológica. Apesar de sua prevalência significativa, a determinação de uma causa isolada tem sido um desafio, resultando em barreiras para o tratamento curativo. Diversos fatores, como alterações hormonais, trauma, estresse, alergias alimentares, deficiências nutricionais e fatores genéticos, foram associados ao desencadeamento das UAR. No entanto, observa-se uma forte correlação com alterações imunológicas locais e sistêmicas.
Estudos têm explorado diferentes abordagens terapêuticas para o tratamento das UAR. Nesta revisão, abordaremos as terapias tópicas como opções de tratamento inicial e coadjuvante. Os corticosteroides tópicos têm sido amplamente utilizados devido à sua capacidade de inibir a resposta inflamatória e acelerar o processo de cicatrização. O acetonido de triancinolona (Omcilon-A Orabase), o gel de fluocinonida(Perioxidin) e o propionato de clobetasol são exemplos de corticosteroides tópicos utilizados no tratamento das UAR. Além disso, a combinação de corticosteroides com agentes antifúngicos, como a nistatina, pode ser benéfica para evitar o supercrescimento de Candida albicans.
Outra abordagem tópica inclui o uso de antissépticos locais, como a clorexidina, que tem sido relatada como eficaz na redução do tempo de cicatrização e no aumento do intervalo entre as lesões. Analgésicos tópicos, como o cloridrato de benzidamina e o gel de lidocaína, podem proporcionar alívio da dor, especialmente antes das refeições, permitindo que os pacientes se alimentem adequadamente.
Além das terapias tópicas, medicamentos sistêmicos, como corticosteroides orais, podem ser prescritos em casos mais graves ou quando a terapia tópica não é efetiva. No entanto, é importante considerar os possíveis efeitos colaterais e contraindicações desses medicamentos antes de sua administração.
Pesquisas recentes também têm explorado novas abordagens terapêuticas para as UAR. Terapias a laser, terapias imunomoduladoras e o uso de novas classes de medicamentos, como inibidores do fator de necrose tumoral (TNF) e antagonistas dos receptores de interleucina, têm mostrado resultados promissores em estudos preliminares. Essas abordagens podem ajudar a modular a resposta imune local e reduzir a recorrência das lesões.
Conclusão
Embora as úlceras aftosas recorrentes continuem sendo um desafio clínico, avanços significativos têm sido feitos na compreensão de sua etiologia e no desenvolvimento de terapias eficazes. O tratamento tópico com corticosteroides, antissépticos e analgésicos é frequentemente utilizado como primeira linha de abordagem. No entanto, em casos mais graves, a terapia sistêmica com corticosteroides orais pode ser considerada. Além disso, a pesquisa contínua sobre novas abordagens terapêuticas e a colaboração multidisciplinar entre dentistas e médicos são essenciais para oferecer um tratamento mais abrangente e eficaz para os pacientes com UAR.
COELHO, Karine; ARAÚJO, Cíntia de Souza Alferes. TRATAMENTO DE ULCERAÇÕES AFTOSAS RECORRENTES: UMA REVISÃO BIBLIOGRÁFICA TREATMENT OF RECURRING APHTHOUS STOMATITIS: A BIBLIOGRAPHIC REVISION.